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Caravana ILPF percorre cidades do Rio Grande do Sul

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Área com pastagem Braquiária Marandú na Fazenda Santa Clara, em Rosário do Sul. Foto: Divulgação/Seapi
Por Darlene Silveira

Sotaques de diferentes regiões do Brasil estão presentes na sétima edição da Caravana da Rede ILPF (Integração Lavoura-Pecuária-Floresta), que está passando pelo Rio Grande do Sul pela primeira vez desde a última segunda-feira (15/4). O projeto permanente da Rede ILPF, em parceria com a Embrapa, percorre as diversas regiões produtoras do Brasil. A ideia é construir alternativas sustentáveis e rentáveis para a agropecuária do país. A Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi) é parceira do evento, sendo a ILPF uma das metas do Plano de Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (Plano ABC+RS). Nesta terça-feira (16/4), pesquisadores, produtores e gestores públicos estiveram em Bagé e Rosário do Sul. A caravana termina nesta sexta-feira (19/4).

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Pesquisador da Embrapa Pecuária Sul, Naylor Perez. Foto: Eduardo Patron/Seapi

Em Bagé, os visitantes participaram de um dia de campo na Embrapa Pecuária Sul.  O pesquisador da entidade, Naylor Perez, abordou a “Integração lavoura-pecuária na Região da Campanha: do controle do capim-annoni à agricultura de precisão”. Ele falou sobre o baixo potencial produtivo das pastagens infestadas por capim-annoni, que produziram em experimentos entre 44 a 78 quilos de peso vivo por hectare/ano. Em contrapartida, apresentou o potencial do sistema ILP como estratégia de controle para áreas infestadas “A gente mediu aqui a produção animal em um período de quase 10 anos de integração lavoura-pecuária, com ganhos obtidos com a adoção dessa prática, com a sequência dos cultivos de soja e azevém”.

Segundo Perez, dados dos experimentos mostram ganhos médios de 310 quilos de peso vivo por hectare/ano. “Isso é importante na renda do sistema em si e na estabilidade do empreendimento, que se torna menos arriscado quando comparado à utilização somente da agricultura, sujeita às frustações de safras, sobretudo pelo déficit hídrico, que se configura em quase 60% dos anos”, disse.

O pesquisador abordou também alguns resultados relativos ao ganho de peso do gado e à produção de soja. “A gente percebe isso quando se estende o pastejo, sem um diferimento antecipado, se pode aumentar a produção animal para mais de 400 quilos de peso vivo por hectare/ano, sem comprometer a produtividade das lavouras”, destacou Perez. “Estamos estudando os resultados quando a gente faz adubação no sistema integração lavoura-pecuária, optando por colocar o adubo completo durante a fase pecuária, durante o inverno, sobre pastagens de azevém, aveia, entre outros”. 

Sobre agricultura de precisão, Perez falou sobre a variação da produtividade nas zonas de um mesmo talhão (porção de terreno) e recomendou usar o mapa de colheita de grãos. “Ele serve como indicativo da sustentabilidade, de se fazer ou não o cultivo em determinas áreas da propriedade”.

O pesquisador abordou ainda o projeto Integra Pampa, realizado junto com a Associação dos Agricultores da Região da Campanha (Agricampanha), onde estão sendo estudados diferentes modelos de produção: só agrícola, integração lavoura-pecuária e sistemas que integram lavoura-pecuária e floresta. “O objetivo é gerar números ao longo do tempo para que a gente tenha dados econômicos e ambientais relacionados com essas diferentes práticas de manejo”, concluiu.

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Pesquisador da Embrapa Pecuária Sul, Hélio Tonini. Foto: Divulgação/Seapi

Na Estação 2, o pesquisador da Embrapa Pecuária Sul, Hélio Tonini, apresentou “Introdução do Componente Florestal em Sistemas de Integração”. Ele falou sobre as vantagens de se integrar árvores às atividades agrícolas e pecuárias no contexto edafoclimático da região da campanha do RS (que são as características do meio ambiente, como clima, relevo, litologia, temperatura, umidade do ar, radiação, tipo de solo, vento, composição atmosférica e a precipitação pluvial).

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Embrapa Pecuária Sul, em Bagé. Foto: Eduardo Patron/Seapi

Tonini abordou aspectos e características de espécies nativas e introduzidas com potencial para este tipo de sistema e o mercado regional para produtos florestais. De acordo com ele, o potencial estimado de neutralização da emissão de metano dos bovinos por árvores de eucalipto em sistemas de ILPF, com 200 a 300 árvores por hectare, é entre 0,5 a 4 unidades animais por hectare/ano, dependendo das condições de solo, material genético e espaçamento entre as árvores.

O pesquisador destacou resultados promissores para três espécies florestais nativas (Angico Vermelho, Açoita Cavalo e Canafístula) em termos de crescimento e sobrevivência. “Além do potencial de mitigação de emissões de metano dos bovinos”, acrescentou.

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Estação 3, a “Experiência da Emater/RS-Ascar em Sistemas Integrados”. Foto: Divulgação/Seapi

Os extensionistas rurais da Emater/RS-Ascar, Rodolfo Perske e Gilmar Deponti, apresentaram, na Estação 3, a “Experiência da Emater/RS-Ascar em Sistemas Integrados”. Conforme Perske, o projeto iniciou em 2012 e foi executado em Bagé, com parceria da Embrapa e outras instituições como Urcamp, IFSul, entre outras. “Foram implantadas, em 17 estabelecimentos de pecuarista familiares, unidades de três hectares de eucalipto em diferentes arranjos de espaçamentos no sitema silvipastoril com três tipos de espaçamentos (de 8, 16 e 24 metros entre as fileiras de eucaliptos)”, detalhou.

De acordo com ele, os pecuaristas selecionados foram os que produziam bovinos e ovinos de corte, que tinham como base na nutrição dos animais o campo nativo e que possuíam uma menor oferta de pastagem no período de inverno. “Eles também tinham falta de sombra para o pastejo dos animais, principalmente no verão, além da necessidade de madeira para consumo na propriedade, para fazer cercas, galpões, mangueiras, bretes, que são estruturas necessárias para o manejo dos animais”, especificou Perske. Ele falou que o projeto silvipastoril foi executado graças a um recurso de R$ 320 mil do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa).

“Os produtores também ganharam sementes e adubo para a implantação de pastagens entre as fileiras das árvores. Foram plantadas três espécies de pastagens forrageiras de inverno – o azevém, o cornichão e o capim lanudo. O objetivo era perenizar essas espécies para que os produtores pudessem seguir pastejando-as nos invernos seguintes”, salientou Perske.

“Nesses 11 anos de plantio das árvores, nós temos produtores que já colheram a madeira e a utilizaram para fazer moirões, tábuas, lenha e utilizaram as áreas como abrigo para os animais, principalmente no verão”, relatou o extensionista.

Rosário do Sul

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Foto: Eduardo Patron/Seapi

Na quarta-feira (17/04) houve uma visita técnica e palestra sobre “Pastagens tropicais perenes em sistemas ILPF na Metade Sul do RS”, na Fazenda Santa Clara, na localidade de Guará, em Rosário do Sul. O médico veterinário do Grupo VJ Agropecuária, proprietário das Fazendas Santa Terezinha e Santa Clara, João Carvalho, contou que o grupo trabalha com sistema de integração lavoura-pecuária e introduziu pastagens tropicais perenes como alternativa para evitar a diminuição do rebanho de cria frente ao avanço das áreas de agricultura. “E isso não diminuiu o nosso rebanho de cria. Inclusive conseguimos, desde 2021, aumentá-lo em 30%, ou em 358 cabeças, estando hoje em 1.490. Atualmente, mantemos a área de agricultura com uma produção considerável em 600 hectares de pastagem perene”, afirmou. “Na Fazenda Santa Clara, que possui dois mil hectares, são 35 de pastagem Braquiária Marandú”.

O proprietário das Fazendas Santa Terezinha e Santa Clara, Luís Paulo Jardim, explicou que trabalha junto com a família, já estando presente a quarta geração. Na Santa Clara plantam arroz, soja e milho e criam gado. “Meu sogro recebeu essa fazenda de herança, ela existe desde a década de 1940”.

Ele contou que as lavouras fornecem alimento no verão. “O problema antigamente é que havia falta de comida no inverno e sobrava no verão. Hoje, com a integração lavoura-pecuária, a gente mantém uma estabilidade de comida no ano inteiro”, destacou Jardim. “Aqui queremos mostrar o cultivo de Braquiária Marandú, plantada no ano passado, uma novidade na região, para ver se o cultivo se propaga entre os demais produtores, porque tem sido muito positivo o resultado”. Quanto ao gado, ele informou que trabalham com cria na Santa Clara. “Nas outras fazendas, sendo uma em Dom Pedrito, atuamos com cria, recria e engorda”.

Plano ABC+RS

O coordenador do Plano ABC+RS, Jackson Brilhante, falou que a caravana está sendo uma ótima oportunidade para divulgar o sistema integração lavoura-pecuária-floresta, que permite ao produtor diversificar seu sistema de produção, trazendo renda e uma maior capacidade de adaptação às mudanças climáticas. “O componente florestal proporciona isso, ou seja, conseguir produzir mesmo com as adversidades climáticas”. Ao mesmo tempo, segundo Brilhante, ajuda o meio ambiente porque sequestra carbono, reduz as emissões de gases de efeito estufa e proporciona uma melhoria da qualidade do solo. “E melhorando a qualidade do solo, ele vai ser capaz de armazenar mais água, de reciclar nutrientes; um solo vivo, com alta atividade biológica, com grande diversidade de microorganismos”.

Ele ressaltou que a integração com pesquisadores de diferentes regiões do Brasil (Minas Gerais, Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro) vai permitir avançar em outras ações dentro do Plano. “Queremos fazer um monitoramento da adoção da integração lavoura-pecuária-floresta no Rio Grande do Sul, através do sensoriamento remoto, onde vamos conseguir identificar a quantidade de área que está sendo adotada pelos produtores, onde eles estão aplicando essas tecnologias, para que a gente consiga direcionar esforços para atingir a meta do Plano, que busca expandir a integração lavoura-pecuária-floresta em um milhão de hectares até 2030. Hoje somos o terceiro estado do Brasil, com uma área de 2,2 milhões”.

Conforme Brilhante, os produtores hoje estão mais atentos para esse sistema, porque enxergam a possibilidade de produzir mais, com redução de custos e menor impacto ambiental.

Ele falou ainda sobre o projeto Integra, da Rede ILPF, que já vem sendo realizado nos estados de Mato Grosso e São Paulo e que busca capacitar diferentes profissionais que atuam na integração lavoura-pecuária-floresta. “Queremos realizá-lo também aqui no Rio Grande do Sul, para que os produtores adotem da melhor forma possível essas tecnologias e assim a gente consiga ter uma maior eficiência nos sistemas de produção”, ressaltou Brilhante.

O coordenador da Caranava e pesquisador da Embrapa Gado de Leite, Marcelo Müller, explicou que o evento é uma expedição técnica que reúne profissionais das associadas da Rede ILPF, pesquisadores da Embrapa e técnicos da Rede. A finalidade é percorrer as regiões do país para divulgar a integração lavoura-pecuária-floresta. “E também queremos descobrir as oportunidades e os gargalos para ampliação das áreas desse sistema nessas regiões, para cumprir as obrigações que o Brasil se comprometeu durante a COP 29 - Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas – e o que está no Plano ABC+, que é ampliar a área com ILPF, hoje estimada em 17 milhões de hectares. Pretendemos chegar a 30 milhões de hectares até 2035”.

ILPF Digital

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Foto: Eduardo Patron/Seapi

A coordenadora das Câmaras Temáticas de Agricultura Digital e de Carbono da Rede ILPF, Fernanda Granja, apresentou o aplicativo ILPF Digital, lançado recentemente em Campo Grande (MS), que serve para coletar informações sobre as propriedades no Brasil que trabalham com as quatro modalidades da ILPF: lavoura-pecuária, pecuária-floresta, lavoura-floresta e lavoura-pecuária-floresta. “É importante sabermos onde estão esses sistemas, o que é feito, quais espécies são usadas, entre outras coisas. É importante para a sociedade ter esses números”, acredita. O aplicativo pode ser baixado nos celulares Android e iOS (Apple).

Um dos participantes da Caravana, o pesquisador da Embrapa Agricultura Digital, de Campinas (SP), Ivan Bergier, disse estar aprendendo bastante com a experiência sobre os sistemas de integração. Ele integra a coordenação da Câmara de Agricultura Digital da Rede ILPF e também falou sobre o aplicativo. “A gente vai poder, via satélite, mapear os sistemas e ajudar nas políticas públicas para, por exemplo, a conversão de pastagens degradadas em sistemas de integração”.

A Caravana continua nesta quinta-feira (18/4) em Ijuí, onde ocorre palestra sobre “Componente arbóreo nos sistemas integrados com pecuária leiteira”. Na sexta-feira (19/4), o encerramento será com um debate sobre “Produção de forragem e culturas de inverno para o gado leiteiro”, em Passo Fundo.

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