Convênio estimula fumicultores a diversificar culturas e armazenar grãos na propriedade
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O balanço entre boa safra e preços altos resultou numa das maiores colheitas de fumo dos últimos 20 anos no Estado. Se os fumicultores já obtiveram mais renda do que em outras épocas com apenas um tipo de plantação, agora, com o estímulo ao cultivo do milho e feijão irrigado na resteva do fumo e armazenando os grãos para vender na entressafra eles terão dinheiro o ano todo.
A possibilidade de diversificação ganha impulso a partir do RS Mais Grãos, programa do governo do Estado, lançado pelo governador Tarso Genro em outubro, que teve convênio de parceria assinado nesta segunda-feira (09), em Dom Feliciano, pelo secretário estadual da Agricultura, Luiz Fernando Mainardi, com o Sindicato Interestadual das Indústrias de Tabaco (Sinditabaco) e a Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra). Cerca 400 pessoas, na maioria agricultores, participaram do ato de assinatura.
A ideia, além de fazer com que o Estado produza mais grãos, como o próprio nome diz, é elevar a renda dos agricultores. As estufas e silos já existentes nas propriedades, utilizadas para secar fumo, servirão também para armazenar e secar os grãos. Os espaços antes ficavam ociosos pelo menos nove meses do ano.
De acordo com Mainardi, a intenção é, também, incentivar a irrigação. “A tecnologia precisa chegar nas pequenas propriedades. Utilizando irrigação, por exemplo, na plantação de milho para silagem dá para triplicar a produção. E o fumo também pode e deve ser irrigado”, afirmou Mainardi. “Quando não chove, tem água mesmo assim. A qualidade fica melhor e aumenta a produção”, destacou o secretário da Agricultura.
Programa RS Mais Grãos
O programa RS Mais Grãos tem a meta de atingir 30,7 mil propriedades rurais em dez anos. Destas, 20 mil já trabalham no cultivo de fumo. Durante nove meses do ano, as estufas de secagem de fumo ficam ociosas.
Assim como no Mais Água, Mais Renda, o governo do Estado também subsidia 30% do financiamento para construção ou reforma de silos e armazéns. Com juros de 2% ao ano, o agricultor tem carência de três anos e 12 para pagar.
O aumento médio na renda chega a 15% quando da estocagem e venda na hora adequada. Além disso, tem garantia de qualidade na produção e ao auto abastecimento da propriedade. A plantação de grãos pós-fumo pode proporcionar alimentação para suínos, bovinos de leite, corte, por exemplo. Segundo o secretário estadual da Agricultura, Luiz Fernando Mainardi, a contribuição ao agricultor se dá na melhoria de qualidade de vida, o que lhe possibilita permanecer na atividade.
Conforme dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a capacidade de estocagem nos silos e armazéns do país é de 148,6 milhões de toneladas. Com uma safra que deve chegar aos 187 milhões de toneladas, há um déficit de 38,4 milhões de toneladas. O Brasil é terceiro produtor mundial de milho, atrás dos EUA e da China. Estimativas dão conta de que apenas 15% dos grãos são armazenados nas propriedades. Outros países apresentam percentuais de no mínimo 35%.
O RS, atualmente, tem capacidade de armazenamento de 31,4 milhões de toneladas. Apesar de parecer suficiente – o Estado deve colher 28,4 milhões de toneladas nesta safra – parte da estrutura é utilizada com produtos de outros estados por conta das exportações, como é o caso do Porto de Rio Grande. Nas propriedades, o índice também está baixo: 13% dos grãos ficam nos estabelecimentos rurais.
A capacidade aquém do necessário causa estrangulamento das operações pós-colheita, ocasionando maior perda de alimentos e rentabilidade. As culturas mais afetadas pelo déficit são arroz e milho. A falta altera os preços, pressiona as safras para baixo, exigindo intervenções do governo no mercado. Em 2011, por exemplo, o governo Federal necessitou injetar R$ 1,2 bilhão no Estado para enxugar o mercado do arroz.
No milho, a situação é ainda pior: o transporte custa quase o mesmo preço do grão quando ele precisa ser trazido da região Centro-Oeste do país pra cá. Além das perdas dos próprios agricultures, as tributárias do governo gaúcho com a importação beiram os R$ 100 milhões.
Estufas existentes nas propriedades gaúchas
Hoje, existem 92,3 mil estufas de tabaco, abrangendo 86,4 mil famílias. Ao considerar que cada família planta, em média, dois hectares, o espaço de terra poderia se utilizado para plantio de milho “safrinha”, depois do tabaco, totalizando 172, 8 mil hectares, ao contrário dos 70 mil atuais, conforme dados da Emater.
Com produtividade média de 3,96 toneladas por hectare, a projeção poderia chegar a 684,5 mil toneladas de milho a mais. Ao inserir a irrigação, o acréscimo seria de 200% na produtividade, passando para 11,8 toneladas por hectare, alçando a produção a 2,05 milhões de toneladas na mesma área depois do tabaco. Com o programa, mais de mil produtores devem ser capacitados por ano e 60 técnicos multiplicadores. O convênio terá duração inicial de um ano.