Festival de Gastronomia valoriza produção gaúcha e miscigenação cultural
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Com a perspectiva de transformar o Estado num dos principais roteiros do gênero no país, o secretário da Agricultura, Pecuária e Agronegócio, Luiz Fernando Mainardi falou hoje à tarde, em coletiva concedida em seu gabinete à imprensa, sobre o primeiro Festival de Gastronomia Regional do Rio Grande do Sul, que acontece de 25 a 30 de junho, no Parque de Exposições Assis Brasil, em Esteio.
Na terça-feira (28), às 18h, no Salão Negrinho do Pastoreio, no Palácio Piratini, o evento será lançado oficialmente pelo governador Tarso Genro.
O Festival pretende, conforme o secretário, trabalhar a culinária gaúcha como mais uma variante da miscigenação étnica, enxergando na gastronomia uma forma de concretizar as distintas manifestações culturais existentes no RS. Além disso, transformar o Parque de Exposições de Esteio num local de grandes eventos, principalmente os de teor regional e vinculados à produ~]ao primária.
A partir da primeira edição, será realizado todos os anos, primando pelo caráter artístico e educacional, valorizando a cultura, o espírito coletivo e garantindo a continuidade do processo de repensar as práticas culinárias, ao resguardar a história e as bases regionais. No ano que vem, por exemplo, antecipou Mainardi, acontecerá paralelo à Copa do Mundo, período em que Porto Alegre e o Estado receberão um grande número de turistas.
Introduzir o tema no âmbito da sociedade vem do conceito que o governador Tarso Genro tem trabalhado, desde o início de sua gestão, da transversalidade que norteia as políticas públicas. Quatorze secretarias de governo estão envolvidas no festival.
A coordenadora do GT de gastronomia regional, Jussara Dutra, disse que o festival dialoga diretamente com a população, ao contrário de eventos semelhantes que acontecem em outros estados no país, cuja centralidade se dá em chefes de cozinha e alta gastronomia, por exemplo. Ela antecipa que durante o festival haverá o primeiro encontro estadual de merendeiras, no qual estima-se a participação de três mil pessoas.
Entender a gastronomia para além da satisfação e da necessidade vital à sobrevivência, ela automaticamente passa a ter outros significados, vinculados à memória e à cultura coletivas, diz o antropólogo Roberto da Matta.
Em seus estudos trata da valorização do conceito de comida, dizendo que ela é “o alimento transformado pela cultura”, tornado-a “depositária de uma memória afetiva”. Ao passar de geração em geração, diz, mantém-se viva a identidade de um povo.
Rever conceitos
Nesse aspecto, o festival, segundo Mainardi, quer rever e repensar o próprio conceito de culinária regional utilizado no Estado. Constituído por mais de 20 etnias, entre as já conhecidas tradicionalmente, o RS abriga imigrantes que trouxeram, além de seus sonhos de vida melhor, hábitos diversos, entre eles técnicas alimentares.
Sob essa ótica, portanto, não se podem considerar os costumes alimentares do homem campeiro platino (churrasco, carreteiro, pucheiro, quibebe, por exemplo) como os únicos representantes da culinária. Através da implementação de política que incentive o setor, resgatam-se e recriam-se pratos típicos de distintas regiões e culturas, além de potencializar o turismo, a cultura, a agropecuária e a geração de novas fontes de renda e trabalho, afirmou Mainardi.
Alguns objetivos a longo prazo estão contidos na ideia do projeto, além do evento em si. Entre eles estão a divulgação da gastronomia regional, sensibilizando a população para reconhecer a importância das diferentes etnias na formação do Estado; estimular o resgate dos pratos tradicionais de cada uma delas; divulgar o uso de alimentos de origem orgânica, na intenção de preservar a saúde e o meio-ambiente; divulgar os diferentes setores da produção de alimentos através de feira de produtores.
Outro ponto importante será a inclusão de movimentos culturais como música, cinema, fotografia, artesanato, folclore, por exemplo, realizando exposição com trabalhos de diversos artistas com o tema da etnia e da gastronomia regional. A questão vitivinícola também estará presente. Em parceria com a IBRAVIN, o festival contará com mostra e degustação de vinhos, espumantes e sucos, numa forma de divulgar a produção, uma das melhores do país e em alta competitividade na América do Sul.
Linha Férrea e distribuição étnica no Estado
A temática do festival será ancorada no transporte ferroviário. Ao olhar a história, o desenvolvimento da malha férrea tem ligação direta com o surgimento dos núcleos populacionais e o estabelecimento de novas linhas. Em 1854, por exemplo, foi criada a primeira seção férrea do Brasil, idealidade por um gaúcho de Arroio Grande, o Barão de Mauá. Inaugurada por D. Pedro II, ligava a Capital do Império ao pé da Serra dos Órgãos.
Vinte anos depois, em 1974, o Estado constrói a sua primeira linha, feita por empresa de capital inglês; compreendia, a principio, o trecho Porto Alegre-São Leopoldo, estendendo-se, em seguida, a Novo Hamburgo e, depois, Canela, em 1922. Antes disso, porém, em 1877, foi criada a chamada linha “tronco”. Atravessava horizontalmente o Estado, indo de Porto Alegre até Uruguaiana; neste mesmo ano, no entanto, autorizava-se a construção da estrada que ligou a Barra do Quaraí à Itaqui. Sete anos mais tarde, em 1884, a Companhia Belga realiza o trajeto Bagé – Rio Grande. Em 1889, cinco anos depois, começa a construção da linha que ligaria o RS a São Paulo, com o ramal entre Santa Maria e Cruz Alta concluído em 1894, e o trecho até Marcelino Ramos, em 1910.
Entre o final do século XIX e o início do XX, entretanto, o trem liga as diferentes regiões, unindo comunidades até então isoladas por estradas precárias e grandes distâncias.