O anúncio do Grupo JBS de que pretende assumir as operações da Doux Frangosul foi recebido com entusiasmo pelo Governo do Estado, ao garantir a manutenção de 20 mil empregos diretos e indiretos e a subsistência de 1,5 mil produtores. O Executivo deu as garantias fazendárias necessárias para o acordo anunciado nesta sexta-feira (04), em Montenegro, e a empresa negocia com o Sistema Financeiro Gaúcho um financiamento para o capital de giro do empreendimento, que marca a estreia da companhia no setor de aves no Brasil.

O grupo vai investir R$ 300 milhões para a retomada das operações das plantas de abate em Montenegro e Passo Fundo, no Rio Grande do Sul. Ao arrendar os ativos da Doux Frangosul por 10 anos, assumiu o compromisso de contratar os trabalhadores da companhia e pagar um passivo de R$ 50 milhões entre dívidas com integrados e pequenos fornecedores.

"Nossa prioridade é manter a base do sistema integrado em operação, pois ela estava ameaçada de entrar em colapso. Fizemos um negócio, mas temos uma enorme satisfação de participar desta empresa, como brasileiros", explicou Wesley Batista, CEO do Grupo JBS. A empresa pretende regularizar os pagamentos em 60 dias e não descartou fazer novos investimentos no Estado, por conta da tradição agroindustrial, da qualificação da mão-de-obra e da proximidade com o Porto de Rio Grande.

Wesley destacou o papel do Governo do Estado e do governador Tarso Genro, que recebeu integrantes do grupo na semana passada, antes da viagem à Europa, em uma reunião na qual garantiu o apoio do Executivo gaúcho à conclusão das negociações. Representante do Governo do Estado no ato realizado em Montenegro, o secretário da Agricultura, Pecuária e Agronegócio (Seapa), Luiz Fernando Mainardi, destacou a importância do acerto.

"Finalmente chegamos a um acordo, em tempo de não colocar em risco um trabalho de integração feito há décadas", disse Mainardi. O secretário também destacou que a agroindústria é uma das prioridades da Política Industrial lançada no mês de março.

O secretário-adjunto da SDPI, Junico Antunes, ressaltou a importância da chegada ao Estado de uma empresa que faturou R$ 60 bilhões em 2011. Junico lembrou que com a nova Política Industrial foram criados mecanismos para reforçar a base produtiva do Estado, principalmente em setores altamente enraizados, como o agroindustrial. "Criamos um ambiente favorável para a aposta de empresas como a JBS. O desafio, agora, é ajudar a companhia a ampliar suas operações no Estado", afirmou Junico.

O presidente da Fetag, Elton Weber salientou que o arrendamento das unidades da Frangosul pelo Grupo JBS permite novos alojamentos e acaba com os problemas que se estenderam durante os últimos três anos. "Essa negociação vai possibilitar aos integrados o recebimento dos valores devidos pela Doux Frangosul", concluiu.

Histórico
O Governo do Estado acompanha o caso Doux Frangosul desde o início da atual gestão. A SDPI, por exemplo, teve a primeira audiência com representantes da companhia ainda em janeiro de 2011. Ocorreram dezenas de reuniões, sobretudo com representantes da Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetag) e cooperativas envolvidas na questão para tratar sobre o tema.

No dia 17 de janeiro de 2012, os secretários da SDPI, Mauro Knijnik, e da Agricultura, Luiz Fernando Mainardi, levaram uma representação ao procurador-geral de Justiça em exercício, Ivory Coelho Neto, solicitando abertura de investigação sobre uma lista de supostas irregularidades na movimentação financeira e negócios entre a Doux Frangosul e a matriz na França, além de danos sociais às famílias de 1,5 mil produtores de frango integrados à agroindústria.

Por orientação pessoal do governador Tarso Genro, a SDPI e a Seapa, desde então, participaram de negociações em busca de uma alternativa empresarial para o problema. Nas últimas semanas, quando representantes da JBS manifestaram o interesse em adquirir as operações, foi ressaltada a necessidade de apoio governamental, principalmente para operar os três primeiros meses, tendo em vista os gastos concentrados para pagamentos de débitos atrasados com produtores integrados e com pequenos fornecedores que dependem economicamente da Frangosul. O Estado garantiu agilidade em todos os procedimentos necessários.

Texto: Alexandre Elmi
Foto: Renê Oliveira
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