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Primeira erva-mate com Indicação Geográfica do RS “Região de Machadinho” é produzida com o método barbaquá

Só existem três locais no RS que produzem com este sistema artesanal

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Ervais na região de Machadinho
Ervais na região de Machadinho - Foto: arquivo pessoal/Ilvandro Barreto de Melo
Por Maria Alice Lussani

O barbaquá (veja origem do termo abaixo) é um método artesanal muito utilizado antigamente para a secagem das folhas da erva-mate. Este método ainda existe nos dias de hoje em alguns locais do Rio Grande do Sul. A primeira erva-mate com IG do Rio Grande do Sul da “Região de Machadinho”, da agroindústria Barbaquá Machadinho, é produzida neste sistema e com a cultivar Cambona 4, que dá um sabor mais suave para a erva-mate.

“O sistema barbaquá é caracterizado por um processo artesanal, manual, e principalmente na primeira etapa de sapeco e secagem, tem uma característica de uso de temperaturas mais baixas no processo de secagem e por um maior período, levando de 24 a 48 horas para fazer a secagem completa da folha de erva-mate. Só para se ter uma ideia nos sistemas mais modernos, a secagem leva entre 40 minutos e uma hora”, conta o engenheiro agrônomo, extensionista da Emater/RS-Ascar e coordenador da Câmara Setorial da Erva-Mate, Ilvandro Barreto de Melo.

Os processos de produção da erva-mate passaram por vários sistemas. Nos primórdios, o método utilizado era denominado de “macaco”, posteriormente evoluiu para o “carijo” e depois veio o “barbaquá”. Só mais tarde que o processo se modernizou, com a chegada do secador rotativo e do sistema por troca de calor.

“Muitos consumiam esse tipo de erva-mate antigamente, e como hoje em dia somente existem três barbaquás no Rio Grande do Sul, não é uma erva-mate fácil de encontrar”, afirma Débora Fonseca, neta do precursor da família Fonseca, proprietária da agroindústria Barbaquá Machadinho. Além de Machadinho, apenas Seberi e Mato Castelhano tem autorização para produzir, de acordo com as normas para fabricação de erva-mate publicadas na portaria 154/2019, da Secretaria Estadual da Saúde (SES/RS).

“A Indicação Geográfica da região de Machadinho é vista como uma ferramenta para o desenvolvimento sustentável da cadeia produtiva da erva-mate, ao valorizar o produto e a região, gerando um incentivo para a manutenção das práticas tradicionais de cultivo, a preservação ambiental e o uso racional dos recursos naturais, garantindo a continuidade da produção para as futuras gerações”, destaca a presidente da Associação dos Produtores de Erva-Mate de Machadinho (Apromate), Selia Regina Felizari. Segundo ela, o selo é um reconhecimento do trabalho árduo e da tradição cultivada por gerações.

A história da família

Antigo barbaquá do "Seu Dorinho", avô de Débora Fonseca, em Machadinho
Antigo barbaquá do "Seu Dorinho", avô de Débora Fonseca, em Machadinho - Foto: arquivo pessoal/Débora Fonseca

A história da família Fonseca se confunde com a produção de erva-mate na região de Machadinho. Os avós de Débora, Teodoro Mendes da Fonseca e Sebastiana Fernandes da Fonseca, já produziam há muito tempo a erva-mate com o método barbaquá. “Eles tinham ervais e produziam erva-mate pra chimarrão no barbaquá que construíram na propriedade”, conta Débora.

Segundo ela, eles vendiam bastante erva-mate, inclusive para fora de Machadinho. “Até que com a construção da indústria no município e também por causa das exigências sanitárias que começaram a surgir, meu avô achou inviável continuar produzindo e parou a produção de erva-mate no barbaquá, ficando somente com a produção de folhas verdes para venda na indústria”, lembra Débora.

Mas “Seu Dorinho”, como era conhecido o avô de Débora, observou que uma planta no seu erval se destacava por rebrotar mais rapidamente e ter uma produção muito maior e começou a fazer mudas desta planta. “Era a Cambona 4, que foi depois pesquisada pela Embrapa e registrada no Ministério da Agricultura e Pecuária como primeira cultivar de erva-mate do Rio Grande do Sul pela Associação dos Produtores de Erva-Mate de Machadinho (Apromate)”, explica Débora. Segundo ela, a partir daí foi feito um pomar para produção de sementes desta planta, o Pomar Clonal de Sementes de Cambona 4.

barbaquá Machadinho
Barbaquá Machadinho, inaugurado em 2022, responsável pela produção da primeira erva-mate com IG da "região de Machadinho" do RS - Foto: arquivo pessoal/Débora Fonseca

Além da produção de mudas de Cambona 4, em 2022 foi inaugurado o Barbaquá Machadinho, com a produção de erva-mate no barbaquá, no mesmo sistema produzido pelo avô, só que em novo local e espaço, para se adequar às normas sanitárias vigentes. A produção da agroindústria chega a cerca de mil quilos/mês e é comercializada principalmente pela internet para diversos estados, tanto a erva-mate para chimarrão tradicional e a moída grossa quanto a erva-mate para tererê. Além disso, a agroindústria participa de feiras como a Expointer e a Expodireto. 

O termo barbaquá

O termo barbaquá tem duas origens. No guarani significa “buraco onde se põe a erva-mate para secar”. Também há uma derivação do espanhol "barbacoa" que significa armação de madeira. O sistema barbaquá foi largamente difundido pelos jesuítas.

IG “Região de Machadinho”

A Indicação Geográfica da Região de Machadinho, que abrange uma área com 10 municípios, foi concedida em fevereiro deste ano de 2025 pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). Para mais informações sobre a IG de Machadinho, acesse a reportagem completa aqui: https://www.agricultura.rs.gov.br/regiao-de-machadinho-conquista-indicacao-de-procedencia-ip-da-erva-mate

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