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Reunião da Câmara da Apicultura e Meliponicultura da Seapi analisa safra de mel 2024/2025

Produção deve ficar bem abaixo de nove mil toneladas

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foto Elstor Hanzen
Reunião ocorreu de forma híbrida. Foto: Elstor Hanzen/Seapi
Por Darlene Silveira

Devido às enchentes de maio do ano passado, a safra de mel 2024/2025 não será das melhores, porque foram perdidas milhares de colmeias de abelhas. Deve ficar em cerca de um terço da produção normal, que, em média, é de nove mil toneladas. É o que acreditam representantes da Câmara Setorial da Apicultura e Meliponicultura da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi). Eles estiveram reunidos nesta segunda-feira (5/5) para debater o assunto, entre outros. O coordenador da Câmara, Patric Luderitz, conduziu o encontro, que teve a participação do secretário da Agricultura, Edivilson Brum, que se colocou à disposição do setor.

Luderitz contou que o setor já vinha sofrendo com as secas há dois anos e ficou mais prejudicado com a tragédia climática de maio de 2024. “Nos dois anos anteriores não houve colheita de mel, só em alguns locais pontuais. Também não houve colheita de safrinha do ano passado, em setembro as plantas não responderam, então a colheita foi muito abaixo do esperado, e no verão também”, explicou o coordenador da Câmara.

“Agora, na safrinha de outono, de março a maio, é que a colheita está sendo um pouco mais expressiva em relação aos demais anos. O pessoal ainda está colhendo”, disse Luderitz. Mas, segundo ele, por causa das noites com temperaturas mais amenas, os eucalipitais não estão com todo vigor. “Também a questão das chuvas que ocorreram na região da fronteira, mais especificamente em Santana do Livramento, dificultaram a colheita, porque os eucaliptos não foram bem”, destacou. “Mas nós vamos ter uma colheita sim, vamos ter mel no Rio Grande do Sul, só não podemos ainda prever a quantidade”, pontuou.

Por sua vez, o zootecnista da Emater/RS-Ascar, João Alfredo Sampaio, afirmou que, na região dos Vales, a produção de mel está excelente. “Temos uma safra bem boa, bem cheia, o pessoal está produzindo bastante. Dá para ver a natureza se recuperando. O que não acontece em outras regiões, com outras condições climáticas”, lamentou.

Recuperação do setor

De acordo com Luderitz, para amenizar a situação da safra 2024/2025, é preciso um maior investimento do setor. “E o Parque Apícola de Taquari pode ajudar nisso, porque ele é um dos grandes propulsores do trabalho de recuperação do Rio Grande do Sul”.

Para o presidente da Federação Apícola e de Meliponicultura do Rio Grande do Sul (Fargs), David Vicenço, o setor também precisa de mais investimento em laboratórios. “Há muita homogeneização de méis que não possuem um boa qualidade. E não temos como separá-los, por isso precisamos de laboratórios que possam fazer esse trabalho, para podermos melhorar a qualidade do mel gaúcho”.

Já o professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul,  Aroni Sattler, destacou que é preciso que haja mais orientação aos produtores de mel gaúchos. “Temos um projeto para quatro ou cinco anos de capacitação para, em primeiro lugar, pequenos produtores. Os instrutores a gente consegue, mas é preciso parcerias com as prefeituras e secretarias de agricultura, é necessário que elas se empenhem nisso. E outras entidades vão dar apoio também como Sebrae e o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), entre outras”.

De acordo com o professor, é preciso que haja padronização também “O setor, por meio das várias entidades da cadeia produtiva, já distribuiu cerca de 500 caixas com abelhas para todo o Rio Grande do Sul. Mas essa quantidade é muito pequena”, lamentou Sattler. “”Precisamos ampliar para termos uma produção sustentável de mel”.

Polinização dirigida nas culturas no RS

A polinização dirigida nas culturas do Rio Grande do Sul foi outro assunto abordado durante a reunião. O que é? Como se faz? Como instalar caixas de abelhas no meio das diferentes culturas? Para responder a essas e outras perguntas, os membros da Câmara propuseram elaborar um manual de boas práticas sobre polinização, considerando as questões sanitárias e as diferenças das culturas. Será formado um Grupo de Trabalho (GT) para elaborar o material, formado pela Seapi, Ufrgs, Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs), Fargs, Emater/RS-Ascar e Farsul, Observatório de Abelhas do Brasil, entre outras entidades.

Importação de mel chileno

A possível importação de mel chileno para o Brasil foi abordada pelo professor da Ufrgs, Aroni Sattler. Ele elaborou um ofício que será encaminhado ao secretário Brum; ao governador do RS, Eduardo Leite; e ao Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). No documento, assinado pelo coordenador da Câmara Setorial da Apicultura e Meliponicultura, o setor manifesta preocupação com notícias recentes que tratam do comércio de mel entre o Chile e o Brasil.

Segundo Sattler, o Rio Grande do Sul, ao longo do tempo, tem sido o maior produtor de mel do Brasil, compartilhando periodicamente esta posição com o estado do Paraná. “A importação de mel do Chile ou de qualquer outro país deverá afetar seriamente toda cadeia produtiva da Apicultura e da Meliponicultura, não só comercialmente, mas especialmente da sanidade das abelhas. Esta nossa preocupação fundamenta-se nos riscos da entrada da bactéria Paenibacillus larvae causadora da doença Cria Pútrida Americana, para a qual o Brasil goza do status de livre por erradicação desde o ano de 2006”, destaca o documento.

Sattler afirma ainda que essa bactéria forma esporos altamente resistentes ao uso de antibióticos e ao calor, que são a forma de resistência e de propagação através do mel. “Assim, fica evidente que a importação de mel do Chile, onde esta doença já foi propagada, representa um grave risco à saúde das nossas abelhas e por consequência a toda cadeia produtiva da Apicultura e da Meliponicultura, onde também se destacam os serviços ecossistêmicos através da polinização, agregando emprego e renda em toda cadeia do agronegócio”.

No documento, a Câmara solicita uma posição firme do Mapa reivindicando a proteção do patrimônio genético das abelhas do Brasil, fazendo uso adequado das opções constantes nas normas da Organização Mundial do Comércio (OMC) e especialmente da Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA).

“Sugerimos que o Mapa adote normas rígidas de controle e vigilância no ingresso do mel importado, analisando lote por lote na rede do LFDA (Laboratório Federal de Defesa Animal) e, quando estes não estejam adequadamente equipados, sejam credenciados e utilizados laboratórios da rede privada em nível nacional”, solicita o ofício.

“Finalmente, destacamos a urgência que o tema requer, para salvaguardar os interesses da Apicultura e Meliponicultura Gaúcha na produção de mel e demais produtos das colmeias, como própolis, pólen, cera, geleia real e apitoxina. Completando o rol de atividades benéficas das abelhas, destacamos os serviços de polinização dos principais cultivos da nossa agricultura familiar e empresarial, bem como da atuação  no equilíbrio ambiental”, finaliza o documento.

reunião Câmara apicultura
Secretário Brum esteve presente. Foto: Elstor Hanzen/Seapi

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