Seminário reúne técnicos e produtores em Canguçu para fortalecer segurança hídrica no campo
Encontro destaca o Programa Irriga+ RS, a legislação ambiental e experiências bem-sucedidas de agricultores locais
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Nesta quarta-feira (11/6), o município de Canguçu, na região Sul do Rio Grande do Sul, sediou mais uma edição do Seminário de Irrigação. O evento reuniu produtores rurais, autoridades e técnicos para debater práticas sustentáveis no uso da água e divulgar iniciativas de incentivo à irrigação no Estado. Gratuito, o seminário foi realizado no auditório do Centro de Convenções – Centro de Treinamento de Agricultores de Canguçu (Cetac) – e contou com cerca de 100 participantes.
Organizado pelas Secretarias da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi), do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema) e pela Emater/RS-Ascar, com apoio da prefeitura e dos sindicatos rural e dos trabalhadores agricultores familiares de Canguçu, o evento teve como foco principal a apresentação do Programa Irriga+ RS, que oferece apoio financeiro para projetos de irrigação.
Durante a abertura, o subsecretário de Irrigação da Seapi, Paulo Salerno, destacou os avanços do programa. “Na primeira fase, o apoio era de até R$ 15 mil por produtor. Agora, na segunda etapa, chegamos a R$ 100 mil por CPF. O Estado já destinou cerca de R$ 40 milhões ao programa”, afirmou. Salerno ainda lembrou que, inicialmente, a produção de hortifruti era mais contemplada pelo programa. Depois, culturas de grãos têm demandado bastante esta política do Estado. O edital está aberto até 29 de julho.
A subvenção é paga em parcela única e visa mitigar os efeitos da estiagem, especialmente em culturas como milho, soja e pastagens, estimulando a implementação ou ampliação de sistemas de irrigação.
“A ideia é garantir mais segurança hídrica para os produtores, reduzindo o tempo de espera por água em caso de seca ”, explicou o engenheiro e extensionista da Emater Carlos Gabriel Nunes dos Santos. Ele também detalhou os critérios para o licenciamento ambiental. "É necessário comprovar disponibilidade hídrica para o empreendimento obter a dispensa ou a outorga de uso da água pelo órgão competente", frisou.
O programa contempla todos os perfis de produtores e permite a instalação de diversos sistemas de irrigação — por aspersão, localizada, por sulcos ou com reservatórios de água. A meta é ampliar em até 100 mil hectares a área irrigada no Estado até 2027.
Experiências de sucesso
Um dos momentos mais aguardados do evento foi a apresentação de experiências bem-sucedidas de agricultores locais. A família Wachholz compartilhou sua trajetória com o sistema de irrigação por gotejamento na cultura da melancia, destacando os ganhos em produtividade e qualidade.
“Comecei com meio hectare, e agora vamos expandir para seis, com ajuda do meu filho. Na primeira colheita, faturamos cerca de R$ 35 mil, após um investimento de R$ 32 mil no sistema”, relatou Airton Wachholz. “O que falta, muitas vezes, é o primeiro passo e o incentivo. Agora não falta mais nada, é só seguir em frente”, comemorou.
Estudos indicam que o gotejamento reduz em aproximadamente 15% o consumo de água em comparação com sistemas por aspersão. Além disso, a durabilidade do sistema, com uso adequado da fita gotejadora e do bombeamento, torna a solução ainda mais viável economicamente.
Outro exemplo apresentado foi o da família Possas Leite, que relatou os bons resultados da irrigação por aspersão em pastagens, com impacto direto na produção leiteira. “Hoje trabalho com 20 vacas em lactação e tenho muito mais segurança com o pasto. É uma garantia de forragem perene. Mesmo em uma seca severa, conseguimos reduzir de 90 para 30 dias o impacto na lactação”, contou Alex Possas Leite.
Perspectivas
O seminário reforça o compromisso do governo estadual e das entidades parceiras com o desenvolvimento sustentável da agropecuária, especialmente em regiões vulneráveis à estiagem. A expectativa é de que, com o fortalecimento de políticas públicas como o Programa Irriga+ RS, mais produtores adotem tecnologias de irrigação, promovendo segurança hídrica e aumento da produtividade no campo.
O edital vigente destina 20% do valor total — limitado a R$ 100 mil por beneficiário — diretamente ao produtor rural. Até o momento, a Seapi já recebeu mais de mil propostas, oriundas de 220 municípios gaúchos, com previsão de irrigar cerca de 9 mil hectares com diferentes sistemas.